Tuesday, January 29, 2008

Ano novo, vida nova, reponham a hora legal no Cais do Sodré e acertem as horas na Ajuda!

Exmo. Senhor Primeiro-Ministro, Eng. José Sócrates,
Exmo. Senhor Presidente da Câmara, Dr. António Costa
Exma. Senhora Ministra, Drª Isabel Pires de Lima,
Exmo. Senhor Ministro, Eng. Mário Lino,
Exmo. Sr. Presidente da APL, Dr. Manuel Frasquilho,
Exmo. Sr. Presidente do IGESPAR, Dr. Elísio Summavielle,


No seguimento da criação do presente Observatório e do ponto de situação que entretanto fizemos sobre os relógios históricos de Lisboa, vimos por este meio chamar a atenção de Vossas Excelências para a gravidade de dois casos em particular: a Hora Legal do Cais do Sodré (que já não é) e a Torre do Galo (que continua mudo).

Como é do conhecimento de V.Exas, o relógio da Hora Legal é aquele que está ligado aos relógios atómicos do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL), e que, até há bem pouco tempo, estava localizado junto ao Cais do Sodré, no que se chamou Edifício da Hora Legal.

Embora sofrendo de problemas técnicos desde há mais de 20 anos, o relógio que se encontrava nesse local foi, efectivamente, o relógio da Hora Legal.

O problema é que Administração do Porto de Lisboa (APL) achou por bem (sem ter em consideração as observações do OAL) substituir o relógio que lá estava por um relógio de quartzo, moderno, bem como interromper a ligação do mesmo ao OAL. Por conseguinte, a hora que será exibida pelo novo relógio não será nunca a hora legal portuguesa ... como foi até ao dia em que se iniciaram as obras de construção dos edifícios da Agência Europeia de Segurança Marítima e do Observatório Europeu de Toxicodependência, e que levaram a que o relógio fosse retirado do local.

Curiosamente, e também relacionado com a Ajuda, também outro importantíssimo relógio histórico de Lisboa se encontra olvidado por quem de direito: a chamada Torre do Galo, junto ao Palácio da Ajuda - palácio nacional, sede do Ministério da Cultura e do IGESPAR, e sala de visitas das individualidades estrangeiras que nos visitam.

Como também é do conhecimento de V.Exas., com a construção da Real Barraca, à Ajuda, fez-se nova Patriarcal, de que a Torre do Relógio ou do Galo (por ter um catavento em forma de galo) fazia parte. A comunidade da Ajuda regeu-se durante mais de um século por este marcador público do Tempo e, por exemplo, o regulamento da Biblioteca vizinha refere, no horário, que a entrada dos funcionários e o encerramento dos serviços se devia fazer obedecendo diariamente ao que os sinos da torre e o seu relógio ditassem.

("MAFRA, José da Silva, relojoeiro do convento de Mafra, "artista habilíssimo", nascido a 1790, foi o autor do mais notável relógio Português que foi colocado na extinta Patriarcal de Lisboa, começando a trabalhar no dia 8 de Setembro de 1796. A obra durou mais de cinco anos a fazer e custou mais de 100.000 cruzados. O construtor ficou seu cuidador, seguido dum seu filho que ficou a exercer o cargo a partir de 24 de Dezembro de 1814, até à extinção da Patriarcal. José Mafra, em 1843, inventou um mecanismo, "por meio do qual se reduziu a um só o emprego diário de dois homens, que eram absolutamente indispensáveis para dar corda ao dito relógio". Fez uma fábrica de peças licenciada por alvará de 21 de Junho de 1785. Entre os manuscritos da Biblioteca da Ajuda, em Lisboa, encontra-se um Rol de Confessados de 1812, do Sítio da Ajuda, onde se faz referência ao "relojoeiro da Patriarcal, José da Silva, natural de Mafra", o que mostra que o seu apelido de família era Silva, mas que, a partir dele, o local de nascimento, Mafra, passou a ser apelido, o que era normal na época.", in «Relógios e Relojoeiros - Quem É Quem no Tempo em Portugal» (Âncora, 2006).

Simplesmente, um incêndio que terá sofrido no final do séc. XX fez com que as estruturas interiores da torre, em madeira, estejam em risco iminente de ruir. No seu interior, lá em cima, e em que estado... poderá estar um dos mais interessantes exemplares da relojoaria grossa nacional.

Tendo em conta o que acabamos de expor, e os últimos desenvolvimentos relacionados com a desafectação de terrenos da APL para a CML, vimos, pelo presente, solicitar a V.Exas.:

- A reposição do exemplar original da Hora Legal, actualmente em exposição na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, em Alcântara, e a sua reconexão aos relógios atómicos do OAL , a fim de que um relógio público volte a mostrar a Hora Legal a todos quantos habitam, trabalham e visitam Lisboa;

- A recuperação da Torre do Galo, com o restauro da máquina de Silva Mafra e sua musealização e contextualização in situ, que, deste modo, poderia ser o primeiro passo no sentido da intervenção geral de reabilitação de toda a envolvente ao Palácio da Ajuda, que todos desejamos mas que, ciclicamente, é anunciada e adiada. A recuperação da Torre do Galo iria enriquecer também o trabalho que o Palácio Nacional da Ajuda vem desenvolvendo no campo do estudo e divulgação do seu próprio acervo. Neste caso, da sua colecção de relojoaria, uma das mais importantes da Europa (tema, recorde-se, da exposição "Tempo Real" e respectivo catálogo, na década de 90).


Na expectativa da concordância de V.Exas. em restabelecer a verdade histórica nestes dois relógios de Lisboa, subscrevemo-nos com os melhores cumprimentos


Maria Amorim Morais, Fernando Correia de Oliveira, Paulo Ferrero e Virgílio Marques

2 comments:

ié-ié said...

Uma dúvida: não existindo já no Cais do Sodré o relógio da Hora legal, o que, mais do que lamentar, se condena, a pergunta é: onde se pode ver agora a Hora Legal?

LPA

Fernando Correia de Oliveira said...

no site do observatório astronómioco de lisboa, www.oal.pt