Saturday, May 31, 2008

O Balão do Arsenal




Em 1858, no Observatório de Marinha, então instalado na frente de rio junto ao actual Arsenal, entre o Cais do Sodré e o Terreiro do Paço, foi colocado um balão, que servia para os navios ancorados no Tejo fazerem o chamado "estado do cronómetro" - saber os desvios diários deste precioso mecanismo, utilizado para o achamento da longitude no mar.


Desde 1829 que havia este tipo de dispositivo, utilizado pela primeira vez na Base Naval de Portsmouth, Inglaterra, o chamado "time ball". Içado lentamente num mastro um quarto de hora antes de uma determinada hora (meio-dia solar médio ou uma hora da tarde, como no caso de Lisboa), caia subitamente nessa altura determinada, sendo visível de bordo. O primeiro balão de Lisboa funcionava muito mal e era alvo do escárnio de quem nos visitava, nomeadamente da imprensa inglesa. Um segundo balão, ligado por linha eléctrica ao Observatório da Ajuda, veio substitui-lo, agora já com grande qualidade. O cair do balão da hora, em Lisboa, era acompanhado de um sinal sonoro, servindo também para o acerto dos relógios normais dos alfacinhas. Do primeiro e do segundo balões nada resta, levados para o lixo ou por um incêndio que destruiu parte do Arsenal. O Balão do Arsenal tinha, entretanto sido substituído pelo Relógio da Hora Legal, ao Cais do Sodré, de que já temos falado aqui. Houve, em Lisboa, outros balões da hora - adjacentes ao Observatório da Ajuda e ao Observatório da Escola Politécnica.

Surge agora uma ideia - apadrinhada pelo Comandante Estácio dos Reis, um oficial de Marinha que também é historiador, e se tem dedicado à descoberta e preservação do nosso património, nomeadamente astrolábios. Aproveitando a passagem das sedes das agências europeias da Droga e do Mar para a zona do Cais do Sodré, pretende-se que, junto ao novo edifício, onde hoje está um parque de estacionamento, e onde ficava o Observatório de Marinha, se erga de novo um Balão da Hora - para recordar os balões passados e haver um instrumento de Tempo público com a hora certa na capital portuguesa - coisa que hoje não há. A Marinha está envolvida neste projecto, falta sensibilizar a União Europeia e as suas agências, especialmente a marítima, cujas sedes ficarão a funcionar na capital portuguesa. Nas imagens, o balão de Nova York; o balão que existiu à Escola Politécnica.

Tuesday, May 13, 2008

Gare Marítima de Alcântara


"No próximo dia 14 de Maio" - amanhã, portanto - "um dos maiores navios de cruzeiro do mundo, o Independence of the Seas, escalará Lisboa na sua viagem inaugural com início e fim no porto de Southampton, em Inglaterra, e será o maior navio de cruzeiros de sempre a visitar a capital Portuguesa". Ao chegar, informa a Administração do Porto de Lisboa (APL) no seu portal, o Independence of the Seas "será escoltado por rebocadores lançando jactos de água até ao Terminal de Cruzeiros de Alcântara, onde ficará acostado. Tal como vem sendo habitual nas primeiras visitas a Lisboa, os passageiros serão agraciados com animação de cais que se traduzirá na actuação de um grupo de monociclos e andas, de um pequeno grupo musical e na oferta de brindes, e ao comandante do navio será entregue a placa comemorativa do evento".

Obra de Porfírio Pardal Monteiro, e uma das jóias do modernismo aplicado ao desenho de equipamentos portuários, a Gare Marítima de Alcântara, hoje Terminal de Cruzeiros de Alcântara, também tem os seus trunfos, mas o portal da APL pouco fala deles, o que é pena. O relógio da gare... bom... está como é regra na cidade: não funciona e falta-lhe um dos ponteiros. Que pensarão os 3634 passageiros do Independence of the Seas quando amanhã, já em terra, olharem a fachada principal do complexo e virem o seu relógio neste estado?