Prezado Hermínio,
É sempre uma satisfação receber o seu e-mail com novidades.
Sinto apenas por este último que não foi portador de boas noticias sobre o relógio histórico de Lisboa.
Realmente é triste que elementos que ajudam a contar a história de um povo estejam sendo banalizados.
Infelizmente aqui esse tipo de ação também acontece. (Sempre imaginei que na Europa era diferente...)
Pessoas sem escrúpulos e “empresas” sem o menor interesse histórico e sobretudo preparo técnico são contratadas para o serviço de restauro de peças valiosas.
Deveria existir uma avaliação melhor por parte dos órgãos responsáveis pela conservação de bens históricos, sobre quais os profissionais mais indicados para executar as restaurações.
Uma avaliação séria do profissional poderia ser feita através das obras que este realizou durante a sua caminhada profissional e não apenas pelo orçamento apresentado.
Outro aspecto que não é levado em conta é que as pessoas que participam destes órgãos deveriam ter o mínimo de conhecimento sobre o assunto a que pretendem opinar. Um bom exemplo disso que estou falando está neste caso do relógio de Lisboa. Se a pessoa ou grupo responsável por contratar o serviço de um relojoeiro conhecesse um pouco sobre o funcionamento de um relógio de torre, saberia que o dito “profissional relojoeiro” não poderia nunca argumentar peso excessivo dos ponteiros para simplesmente substituí-los. Ora, os ponteiros foram projetados para esse tipo de relógio desde o início e portanto não ficaram mais pesados com o passar do tempo...sem falar que visivelmente em outra fotografia observa-se os contra pesos dos ponteiros, algo justamente projetado para (falando em uma linguagem simples)“facilitar” o funcionamento do mecanismo.
Outro ponto que aconteceu neste seu caso mas que é bem comum aqui no Brasil, é o argumento que muitos dos “profissionais relojoeiros” falam com a “boca cheia” de que o relógio da torre não funciona pois “os pesos estão muito leves” Outro absurdo!
Já restaurei máquinas de relógio de torre onde foi necessário refazer várias engrenagens que possuíam dentes todos gastos devido ao excesso de peso que foi acrescentado para “forçar” o funcionamento do relógio, fora todo o tipo de sujidade que foi simplesmente ignorada pelo “profissional relojoeiro”. O pior dessa história é que o responsável pela peripécia, por incrível que pareça, ficou famoso frente as reportagens por ter sido aquele que “consertou” o relógio histórico. Só que os jornalistas se esqueceram de mencionar que o relógio funcionou por apenas 8 meses, depois parou por quebra de três dentes de uma engrenagem de transmissão. Foi onde finalmente me chamaram para restaurar o dito relógio. Aqui (no Brasil) se tem um ditado que diz que nesse caso “saiu mais caro o molho do que o peixe”.
Já fiquei descontente com esses fatos, mas como aqui fazer uma reclamação pública sobre isso é o mesmo que “uma voz que clama no deserto”, adotei uma filosofia própria que é continuar fazendo e trabalhando da melhor forma possível de forma que aos poucos os devidos méritos sejam dados a quem merece. Digo isso não porque estou a procura de méritos e louros, mas porque acho que devo contribuir com a minha parte na preservação da história, e as pessoas que realmente se importam com isso vão notar a minha dedicação e aos poucos os profissionais ruins serão esquecidos.
Acho que isso é tudo.
Conheço o seu trabalho e dedicação através das obras que apreciei quando visitei o seu Site, e por isso tenho confiança que o seu trabalho será mais reconhecido em breve.
Faço votos que os profissionais despreparados sejam logo esquecidos em sua terra!
Atenciosamente
Fábio *
* Relojoeiro brasileiro
Thursday, July 15, 2010
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